A autora japonesa Aya Nishitani tem compartilhado recentemente no Twitter/X algumas histórias incríveis sobre a série Megami Tensei, incluindo a interessante explicação de por que o jogo recebeu duas versões tão diferentes para o Nintendo Famicom e computadores pessoais no Japão.
Se você tem alguma familiaridade com os jogos Megami Tensei da Atlus, provavelmente já sabe que a série surgiu de uma trilogia de livros escritos por Nishitani, lançados no Japão na década de 1980 sob o título Digital Devil Story. No entanto, o que pode não ter chamado sua atenção — a menos que você tenha investigado mais sobre a história da série — é que o título para Nintendo Famicom da Atlus não foi, na verdade, o primeiro jogo adaptado dos romances a ser lançado nas lojas japonesas. O desenvolvedor Nihon Telenet criou um jogo próprio em 1987 para computadores pessoais (incluindo MSX e PC-8801mkII SR), que foi disponibilizado alguns meses antes.
Ambos os jogos eram notavelmente diferentes entre si, sendo que o título do Famicom, que foi mais bem-sucedido, era um dungeon crawler (semelhante a títulos posteriores da série), enquanto o jogo original para computadores apresentava um estilo de RPG de ação visto de cima. Isso gerou questionamentos entre a comunidade do jogo sobre as razões para essas diferenças.
Anteriormente, a explicação mais frequentemente citada para a disparidade entre os jogos vinha de uma entrevista com o ex-artista da Nihon Telenet, Kouji Yokata, publicada no excelente trabalho chamado The Untold History of Japanese Game Developers. Nela, Yokata explica que os jogos foram “projetados para evitar os gêneros estereotipados de cada sistema — jogos de ação em computadores pessoais, RPGs em consoles”. Yokata, no entanto, ressalta que não tinha certeza se isso se devia a “instruções do autor original”, pois havia acabado de ingressar na empresa na época.
Foi aí que Nishitani entrou em cena, publicando recentemente um novo tópico em sua conta no Twitter/X, oferecendo mais detalhes sobre como duas adaptações distintas acabaram sendo produzidas.
Nesse tópico, Nishitani afirmou que o jogo da Nihon Telenet na verdade surgiu depois do título do Famicom (apesar de ter sido o primeiro a ser lançado) e que foi resultado da recusa da Atlus em aceitar sua proposta de uma aventura no estilo Dragon Quest para o console da Nintendo.
“Estou certo de que muitas pessoas fora do Japão não sabem que existe um jogo de PC para Megami Tensei. Antes do Sr. Ueda, da Atlus, me dizer que Megami Tensei seria um jogo de masmorras, eu já estava pensando no jogo por conta própria. Eu sentia que, se fizesse um RPG de campo para o NES da época, ele se pareceria com…”, explicou Nishitani.
Ele continuou:
“Com a ideia de um jogo, eu imaginei um demônio simbolizando cada área acima do solo, abaixo do solo, no céu, debaixo d’água e no deserto. Akemi Nakajima, acompanhada de demônios mensageiros, utilizaria a espada de Kagutsuchi para atravessar e resgatar Yumiko. Os demônios mensageiros não eram apenas Cerberus, mas também Tritão ou Sereia para o mar e Garuda para o céu. Esses desenhos não estão mais disponíveis, mas o grimório que acompanhou o jogo de PC e as configurações de personagens transmitem a atmosfera do mundo dos jogos dos anos 1980.”
“Antes de eu compartilhar meu plano, o Sr. Ueda já havia decidido que Megami Tensei seria um jogo de masmorras, então não tive a oportunidade de falar sobre minha ideia. Depois, por acaso, o CEO e produtor de uma empresa de jogos chamada Nippon Telenet viu meu plano e disse: ‘Sua configuração é interessante. Vamos pensar em um jogo para você’, levando meu desenho para lá. Acho que foi por isso que os jogos de PC foram criados, que são muito diferentes de Megami Tensei no NES.”
Como mencionado, essa não é a única história fascinante que Nishitani compartilhou sobre o jogo em suas redes sociais. Em abril de 2023, o autor revelou que a Nintendo inicialmente queria adaptar seus livros, mas decidiu que “um jogo de invocação de demônios não poderia ser lançado sob a marca Nintendo”. Isso acabou levando Nishitani a firmar uma parceria com a Atlus e a Nihon Telenet.