No começo dos anos 2000, quando a sigla I.A. – Inteligência Artificial – era apenas reconhecida como o título de um filme dirigido por Steven Spielberg, um robô simpático e brasileiro chamado Ed já utilizava essa tecnologia, que na época parecia futurista, para interagir virtualmente com as pessoas e responder a perguntas sobre diversos temas.
O Ed foi criado em 2004 pelo Conpet, um projeto da Petrobras que visa promover o uso consciente de combustíveis e a conservação de energia. O desenvolvimento do chatbot contou com a tecnologia e o suporte da empresa paulista InBot.
Empregando elementos básicos de técnicas de Inteligência Artificial, como o processamento de linguagem natural (NLP) e aprendizado de máquina, o Ed, cujo nome é uma abreviação para “Energia e Desenvolvimento”, é reconhecido no meio acadêmico como um dos primeiros chatbots brasileiros a integrar IA, especialmente em um contexto corporativo bem visível.
“Quando lançamos o Ed, ele tinha cerca de dois mil tipos de respostas para diferentes assuntos. Monitorávamos quais eram os temas mais abordados pelos usuários e, a partir disso, criávamos respostas para perguntas que ele não conseguia responder”, comentou Rodrigo Siqueira, fundador e chefe de tecnologia da InBot, em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Após operar por 12 anos consecutivos, chegando a responder até um milhão de perguntas em um único dia, o Ed foi aposentado em 2016. Funcionando como um “empregado” da Petrobras, o robô tinha à sua disposição uma equipe de especialistas em programação, computação gráfica, linguística, energia e psicologia.
Akinator, o gênio da internet
Outro emblemático exemplo do início da era da “IA a lenha”, o Akinator foi criado em 2007 por um trio de programadores franceses (Jeff Deleau, Arnaud e Olivi) da empresa Elokence. Diferente do nosso conterrâneo Ed, o “gênio da internet” é um jogo inicialmente concebido para PC, projetado para ser jogado online.
Os usuários que quisessem desafiar o Akinator bastavam acessar seu site, onde podiam interagir livremente com o “gênio”. O adivinho utilizava um método exclusivo de questionamento para descobrir qual personagem estava na mente do usuário.
No Brasil, o Akinator tornou-se um verdadeiro sucesso após ser apresentado pela popular apresentadora MariMoon no programa ScrapMTV em 2008. O fenômeno foi tão grande que a empresa decidiu desenvolver uma versão em português do jogo. O gênio viralizou em 2011, quando foi lançado como aplicativo móvel.
Embora o jogo “adivinhe” por meio de perguntas simples, com respostas do tipo “sim”, “não”, “talvez” ou “não sei”, ele aplicava algoritmos de IA que utilizavam uma vasta base de dados alimentada por respostas dos próprios usuários para conseguir “ler” o pensamento dos jogadores, limitando as opções.
Atualmente, o Akinator continua disponível tanto em seu site quanto nas lojas de aplicativos, mantendo sua “mágica” em funcionamento. Na verdade, os únicos algoritmos que conseguem oferecer IA para realizar o trabalho do gênio são as redes neurais, que não estavam amplamente disponíveis em 2007.
A evolução da inteligência artificial
A fascinação por robôs inteligentes e gênios telepáticos reside na nossa surpresa ao nos depararmos com um sistema que parece saber mais do que nós. Essa experiência é similar ao uso do Chat GPT pela primeira vez, onde insegurança e espanto diante de respostas elaboradas podem parecer mágicos.
Embora esses programas pioneiros de IA utilizassem extensos bancos de dados e árvores de decisão para interagir com os usuários, tratava-se de uma forma de IA simbólica, que seguia regras explícitas programadas por humanos e apresentava limitações em aprendizado e adaptação.
Com os avanços tecnológicos atuais, a abordagem da IA agora se concentra em redes neurais e aprendizado profundo, resultando em um uso monumental de dados, aumento da capacidade computacional e inovações em algoritmos de aprendizado. Com isso, a IA superou as regras estritas para passar a identificar, de maneira autônoma, padrões complexos nos dados.
Nesse contexto, o lançamento do GPT (Generative Pre-trained Transformer) em 2018 representou um marco importante na história da IA. Baseados em redes neurais profundas, esses modelos são treinados em imensos corpos de texto, permitindo-lhes gerar linguagem humana de forma coesa.
Com as versões GPT-3 e GPT-4, a IA não apenas responde, mas também compreende e cria textos complexos, gerando conteúdos e executando tarefas intricadas.
Outras inovações, como o Gemini (anteriormente conhecido como Bard) do Google, além de outros serviços do tipo, combinam seus modelos de linguagem com variadas formas de IA, sendo capazes de processar simultaneamente diferentes formatos de dados, incluindo texto, imagem e áudio.
A semelhança entre o Robô Ed, o Akinator, o ChatGPT e o Gemini é que, independentemente do nível de sofisticação de seus algoritmos, todos eles oferecem respostas “humanas” aos seus usuários.